Corpo Contido
Costões
Biscuit queimado, resina e sal
Dimensões variáveis
2019
Biscuit queimado, resina e sal
Dimensões variáveis
2019
Corpo contido
Desenhos sobre fotografias impressas em papéis antigos, tinta de biscuit e sal sobre molduras
Dimensões variáveis
2019
Desenhos sobre fotografias impressas em papéis antigos, tinta de biscuit e sal sobre molduras
Dimensões variáveis
2019
Corpo contido
Galhos revestidos com biscuit queimado, resina e sal
Dimensões variáveis
2019
Galhos revestidos com biscuit queimado, resina e sal
Dimensões variáveis
2019
Corpo contido
Biscuit queimado, resina e sal
Dimensões variáveis
2019
Biscuit queimado, resina e sal
Dimensões variáveis
2019
Vista da exposição Corpo contido
Galeria Inox, 2019
Texto de Agrippina R. Manhattan:
Galeria Inox, 2019
Texto de Agrippina R. Manhattan:
Um bicho saindo de dentro da casca é um ser muito corajoso. É preciso muita força para fazer uma ecdise. É um processo que leva tempo, alguns seres procuram conchas novas, alguns seres quebram seus exoesqueletos quando crescem demais.
De qualquer modo, o que liga todos os integrantes da classe Ecdysozoa é que eles sabem que não poderão estar como são para sempre. Em algum momento precisarão sair. Esse texto é para você, pequeno invertebrado que teve a coragem de sair.
É preciso elogiar esse movimento de coragem por alguns motivos. Quando o ser sai, quando o corpo fica exposto, é quando ele está mais vulnerável. É quando vemos como (e o que) ele realmente é, ao invés talvez de onde ele estava. O ser não escolhe, ele sente a necessidade vindo e tudo que pode fazer é esperar que a mesma natureza que o empurra para fora o dará coragem para seguir sem a casca.
É preciso reconhecer também algo que nós, caros integrantes do filo Chordata, apresentamos certa dificuldade em aprender: esse processo os ensina a deixar parte de si para trás. Deixar o próprio esqueleto para trás, o familiar, a casa, aquilo que já ficou pequeno demais, mas tenta-se absurdamente, e em vão, fazer caber. Alguns membros do filo Arthropoda usam parte do antigo exoesqueleto para produzir o novo. Acho que a isso podemos chamar saudade.
É preciso coragem ao deixar tudo para trás. Vir de outro lugar, trocar de casca algumas vezes durante o caminho. Para eles isso é um processo comum, faz parte de sua natureza, mas há alguns que simplesmente não conseguem deixar ir. Ainda precisam usar esse resto de carapaça até se sentirem prontos, que precisam usar a antiga casca para produzir uma nova. Como são seres invertebrados os chamados de artrópodes, se fossem humanos talvez os chamássemos de artistas.
Ygor Landarin nasceu bem longe daqui. Deve ter trocado de pele e carapaça umas boas vezes para se adaptar ao clima e ambiente local. Com as cascas que guardou de si e de outros seres constrói agora a sua primeira exposição individual.
Nesse amontoado de cascas, resinas e cracas a paisagem que se constrói é familiar a todas aquelas que alguma vez já passaram por ecdise. Para o deleite dos invertebrados e confusão dos humanos vemos aqui um trabalho se organizar a partir de partes do que já foi e sobretudo de rastros sobre onde se vem.
Esses rastros, podemos pensar, vem de onde Ygor veio. Uruguaiana, Florianópolis, Rio Grande do sul, Santa Catarina, sul da América do Sul, Brasil. Mas, lugar e natureza no trabalho de Ygor admitem serem observados sobre sua ótica mais honesta. É sobre a natureza selvagem das
praias dos sambaquis, mas também sobre o cerne desse ser que se revela quando sai da sua casca. É sobre lá, mas também é sobre aqui.
Aqui o artista faz o que os invertebrados fazem por natureza, ele se expõe. Coloca no chão, nas paredes em todo lugar para quem quiser ver o que estava restringindo seu corpo e agora está mole, exposto e por todo lugar. Fico muito feliz em imaginar que agora Ygor pode construir sua nova casca, que o abrigará e será sua casa por quanto tempo lhe servir e que talvez esse texto possa ser útil para auxiliar na construção de um lugar onde ele se sinta em casa. Para todes que acham forças para fazerem suas próprias ecdises.
De qualquer modo, o que liga todos os integrantes da classe Ecdysozoa é que eles sabem que não poderão estar como são para sempre. Em algum momento precisarão sair. Esse texto é para você, pequeno invertebrado que teve a coragem de sair.
É preciso elogiar esse movimento de coragem por alguns motivos. Quando o ser sai, quando o corpo fica exposto, é quando ele está mais vulnerável. É quando vemos como (e o que) ele realmente é, ao invés talvez de onde ele estava. O ser não escolhe, ele sente a necessidade vindo e tudo que pode fazer é esperar que a mesma natureza que o empurra para fora o dará coragem para seguir sem a casca.
É preciso reconhecer também algo que nós, caros integrantes do filo Chordata, apresentamos certa dificuldade em aprender: esse processo os ensina a deixar parte de si para trás. Deixar o próprio esqueleto para trás, o familiar, a casa, aquilo que já ficou pequeno demais, mas tenta-se absurdamente, e em vão, fazer caber. Alguns membros do filo Arthropoda usam parte do antigo exoesqueleto para produzir o novo. Acho que a isso podemos chamar saudade.
É preciso coragem ao deixar tudo para trás. Vir de outro lugar, trocar de casca algumas vezes durante o caminho. Para eles isso é um processo comum, faz parte de sua natureza, mas há alguns que simplesmente não conseguem deixar ir. Ainda precisam usar esse resto de carapaça até se sentirem prontos, que precisam usar a antiga casca para produzir uma nova. Como são seres invertebrados os chamados de artrópodes, se fossem humanos talvez os chamássemos de artistas.
Ygor Landarin nasceu bem longe daqui. Deve ter trocado de pele e carapaça umas boas vezes para se adaptar ao clima e ambiente local. Com as cascas que guardou de si e de outros seres constrói agora a sua primeira exposição individual.
Nesse amontoado de cascas, resinas e cracas a paisagem que se constrói é familiar a todas aquelas que alguma vez já passaram por ecdise. Para o deleite dos invertebrados e confusão dos humanos vemos aqui um trabalho se organizar a partir de partes do que já foi e sobretudo de rastros sobre onde se vem.
Esses rastros, podemos pensar, vem de onde Ygor veio. Uruguaiana, Florianópolis, Rio Grande do sul, Santa Catarina, sul da América do Sul, Brasil. Mas, lugar e natureza no trabalho de Ygor admitem serem observados sobre sua ótica mais honesta. É sobre a natureza selvagem das
praias dos sambaquis, mas também sobre o cerne desse ser que se revela quando sai da sua casca. É sobre lá, mas também é sobre aqui.
Aqui o artista faz o que os invertebrados fazem por natureza, ele se expõe. Coloca no chão, nas paredes em todo lugar para quem quiser ver o que estava restringindo seu corpo e agora está mole, exposto e por todo lugar. Fico muito feliz em imaginar que agora Ygor pode construir sua nova casca, que o abrigará e será sua casa por quanto tempo lhe servir e que talvez esse texto possa ser útil para auxiliar na construção de um lugar onde ele se sinta em casa. Para todes que acham forças para fazerem suas próprias ecdises.