Textos


Texto de Brígida Baltar, Ana Miguel e Clarissa Diniz.
Exposição coletiva Fixo só o prego
Espaço Municipal Sérgio Porto, 2018.

Ygor cresceu no lugar dos sambaquis e transforma os agrupamentos da sua memória em arranjos escultóricos nos espaços da arte. É pela multiplicidade de minúsculos objetos, algumas vezes vindos da vida orgânica, e outras construídas com materiais como porcelanas frias, que faz seus montes adquirirem força. Quando nos aproximamos é possível distinguir algum osso, algum crustáceo, algum pequeno pote queimado.

Sua obra passa pela descoberta dos materiais que ele vai alquimicamente experimentando. Usa sal grosso, camarões secos, vernizes, gesso para significar além do sentido de território, o lugar da vida orgânica que se espalha progressivamente em colônias e indefinidamente. Ygor já incrustou na pele cracas, nas roupas, musgos, e agora produz variados desenhos a partir de papéis mofados, emulando processos vivos em constante metamorfose.




Texto de Daniella Avellar para a revista Desvio
sobre a exposição Corpo Contido, 2019
https://revistadesvio.com/2019/08/29/corpo-contido-vida-expandida/


Um corpo contido está circunspecto, refreado e comedido. Mas se expande no encontro com o outro, no intercâmbio entre meios. Corpo Contido é o nome da primeira individual do artista Ygor Landarin, ocorrida na Galeria INOX durante o mês de Agosto desse ano. A exposição é acompanhada de um texto arrebatador de Agrippina Roma Manhattan, quem também assina a curadoria. Li o tal escrito assim que soube da exposição pelas redes sociais, mas só tive tempo de ir à galeria nos momentos finais da mostra. As palavras de Agrippina ressoaram em minha cabeça e serviram como uma espécie de introdução ao contexto que encontraria.

O texto supracitado começa falando sobre ecdise, processo evolutivo animal, podendo acontecer através de uma mudança de exoesqueleto em alguns ou uma troca de pele em outros. Considero forte a presença do não-humano no trabalho de Ygor Landarin. Já haviam muito me chamado a atenção suas Influênzias (2018) e Colônias (2017). Vejo em trabalhos do artista conjuntos ou amontoados em expressivo agrupamento, evocando ideias como matilha e multidão. O corpo, no caso, pode ter a ver com uma gestão de corporalidades coletivas. E quando desatinado, o oposto de contido, pode aparecer composto pelo entrelaçamento de recursos naturais colhidos e outros materiais diversos.

Um corpo coletivo se libera na exposição e no espaço da galeria tomando diversas formas, como seres que incrustam no espaço. Da coleta ao molde. Do concreto à abstração. O exepcionalismo humano pode nos cegar? Até onde vai a autonomia humana? A coletividade coopera na abertura de um modo de pensamento menos exclusivista, que faz resistência frente à delimitação de uma linha precisa que afirma os que tem direito à uma vida qualificada em oposição aos que não tem. O conceito de vida pode ser explorado de uma maneira outra. Para que isso seja experimentado, vale pensar a matéria não como algo inerte que ganha forma através de um projeto ou plano determinado.

No moldar, no fazer, tato e mão em contínuo processo é que trazemos as coisas de volta à vida. Dar forma é movimento, ação vital. É sobre o gesto de unir-se às forças do mundo que trazem à tona a forma, como uma simbiose. O trabalho de Ygor Landarin não trata-se de matérias passivas subjugadas à um projeto totalmente racional de forma e com fins pré-determinados. Em Corpo Contido o que encontro me aparece mais como um grupo de coisas do que de objetos. Digo isso pois os trabalhos do artista são como conjuntos de porosidades vivas em entrelace e alastramento. Não há fato consumado nem meras superfícies externas, a coisa é lugar de acontecimentos vários. Coisas vazam e se misturam, criam novas formações, rotas, retornos e refúgios. O corpo expande e contrai, transformando-se em constante processo de mutação.

Texto de Agrippina R. Manhattan
Exposição Corpo Contido
Galeria Inox, 2019

Um bicho saindo de dentro da casca é um ser muito corajoso. É preciso muita força para fazer uma ecdise. É um processo que leva tempo, alguns seres procuram conchas novas, alguns seres quebram seus exoesqueletos quando crescem demais.

De qualquer modo, o que liga todos os integrantes da classe Ecdysozoa é que eles sabem que não poderão estar como são para sempre. Em algum momento precisarão sair. Esse texto é para você, pequeno invertebrado que teve a coragem de sair.

É preciso elogiar esse movimento de coragem por alguns motivos. Quando o ser sai, quando o corpo fica exposto, é quando ele está mais vulnerável. É quando vemos como (e o que) ele realmente é, ao invés talvez de onde ele estava. O ser não escolhe, ele sente a necessidade vindo e tudo que pode fazer é esperar que a mesma natureza que o empurra para fora o dará coragem para seguir sem a casca.

É preciso reconhecer também algo que nós, caros integrantes do filo Chordata, apresentamos certa dificuldade em aprender: esse processo os ensina a deixar parte de si para trás. Deixar o próprio esqueleto para trás, o familiar, a casa, aquilo que já ficou pequeno demais, mas tenta-se absurdamente, e em vão, fazer caber. Alguns membros do filo Arthropoda usam parte do antigo exoesqueleto para produzir o novo. Acho que a isso podemos chamar saudade.

É preciso coragem ao deixar tudo para trás. Vir de outro lugar, trocar de casca algumas vezes durante o caminho. Para eles isso é um processo comum, faz parte de sua natureza, mas há alguns que simplesmente não conseguem deixar ir. Ainda precisam usar esse resto de carapaça até se sentirem prontos, que precisam usar a antiga casca para produzir uma nova. Como são seres invertebrados os chamados de artrópodes, se fossem humanos talvez os chamássemos de artistas.

Ygor Landarin nasceu bem longe daqui. Deve ter trocado de pele e carapaça umas boas vezes para se adaptar ao clima e ambiente local. Com as cascas que guardou de si e de outros seres constrói agora a sua primeira exposição individual.

Nesse amontoado de cascas, resinas e cracas a paisagem que se constrói é familiar a todas aquelas que alguma vez já passaram por ecdise. Para o deleite dos invertebrados e confusão dos humanos vemos aqui um trabalho se organizar a partir de partes do que já foi e sobretudo de rastros sobre onde se vem.

Esses rastros, podemos pensar, vem de onde Ygor veio. Uruguaiana, Florianópolis, Rio Grande do sul, Santa Catarina, sul da América do Sul, Brasil. Mas, lugar e natureza no trabalho de Ygor admitem serem observados sobre sua ótica mais honesta. É sobre a natureza selvagem das

praias dos sambaquis, mas também sobre o cerne desse ser que se revela quando sai da sua casca. É sobre lá, mas também é sobre aqui.

Aqui o artista faz o que os invertebrados fazem por natureza, ele se expõe. Coloca no chão, nas paredes em todo lugar para quem quiser ver o que estava restringindo seu corpo e agora está mole, exposto e por todo lugar. Fico muito feliz em imaginar que agora Ygor pode construir sua nova casca, que o abrigará e será sua casa por quanto tempo lhe servir e que talvez esse texto possa ser útil para auxiliar na construção de um lugar onde ele se sinta em casa. Para todes que acham forças para fazerem suas próprias ecdises.       




Texto de Bruno Portella sobre a série Desterros:

Rio de Janeiro, fevereiro de 2020
Dedico esta carta a quem um dia ousou se lançar para longe de si.

Anseio as primeiras palavras de maneira singela e informal. Gostaria de lhe presentear com esta carta e dizer, sobretudo, que ser raiz é trabalhoso, mas gratificante. Subterrâneas, aéreas ou aquáticas, é preciso muita força e determinação para crescer rasgando a terra, afogando-se em mar ou rastejando-se em ventos turbulentos. Ser e estar nunca me pareceu tão complicado.

Mas veja bem, Ygor querido, mais difícil que prender é soltar. Uma completa audácia ser raiz solta, além de perigoso, atitude que só as pessoas mais corajosas que conheci foram capazes de ter. Você é uma delas. Por isso, arrisco-me a dizer que esta pode ser uma carta de amor, que contempla da maneira mais doce a sua vontade de desbravar os territórios sombrios existentes na dúvida de onde veio, mesmo sabendo que, para isso, é preciso ser raiz em muitos lugares.

Você sabe que pertencimento sempre foi um conceito distante, assim como os lugares que um dia foram cruzados e deixados para trás. O nascimento em Uruguaiana –RS, a ida para Florianópolis –SC com apenas um ano de idade e, posteriormente, sua longa caminhada até o Rio de Janeiro me fazem imaginar que a travessia te pareceu ser sempre mais interessante, mesmo que dolorosa e, às vezes, involuntária. O lugar do entre, sempre muito espantoso e incerto para alguns, te embala e acode ao ser percebido como mais um cruzamento. O outro lado, aqui ou lá, dentro ou fora, não faz mais sentido para uma raiz solta. Ela pode, e deve, ser raiz em qualquer lugar. Você pode, e deve, ser e estar em qualquer lugar, em qualquer momento.

Em botânica, por exemplo, existe um fenômeno interessante conhecido como rizoma, uma raiz que cresce horizontalmente, mas também, que nega sua estrutura rígida e se desenvolve como uma trama, florescendo, brotando e desabrochando em qualquer lugar. O desterro aqui me parece uma metáfora, como se tivesse matado a si próprio para viver do jeito que quer. E, assim como o rizoma serve de fonte nutritiva para as plantas que se conectam a ele, você se alimenta das memórias que vem colhendo aos poucos durante toda sua travessia.

Pode ser que um dia você encontre um lugar para fincar todas as raízes que carrega nas mãos, pode ser, também, que esse lugar resida em alguém ou algo. Mas, por ora, ele pode ser percebido em suas obras, seja nas raízes que brotam dos tecidos, nas fotografias dos pés de seus pais ou nas paisagens de sua memória mais calorosa. Seja no vídeo-registro repleto de uma poesia singular e profunda ou em desenhos que me remetem à uma arqueologia sensível. Vejo nisso tudo, novamente, a rede que construiu enquanto raiz solta, como uma trama do tempo onde brotam lembranças de diversos lugares. Uma sobreposição à deriva.

Termino, portanto, relembrando nossa viagem à cidade onde passou maior parte da sua vida, Florianópolis, que antes de ser chamada assim, era conhecida como Desterro. E, se aceita meu conselho, espero profundamente que continue radicando, penetrando e cravando novas terras, águas e ares. Continue desterrando quem te toca e fazendo com que sejam abraçados pelo conjunto de suas histórias e afetos. O desterrar nunca se apresentou de maneira tão entusiasmada como percebo agora.  Obrigado.

Com amor, Bruno Portella

Trabalho de conclusão de curso da curadora
Bruna Helena Pereira Soares
UERJ, 2019.


[...] 3.4 - Cartografia Ygor Landarin

Meu primeiro contato com Ygor Landarin aconteceu durante um curso  frequentado na Escola sem Sítio, em um momento no qual eu me aprofundava nos  estudos curatoriais e ele investigava sua produção poética. No final do período, as  turmas se juntaram para montar uma exposição, envolvendo curadores e artistas.  Nossa aproximação se estabeleceu de forma fluida e carinhosa e, desde então,  trocamos com alguma frequência sobre processos, afinidades e produções.

Para fazer esta cartografia, utilizei anotações de conversas anteriores, áudios entrevista com questões pertinentes para a cartografia e folhetos/catálogos de  exposições que o artista participou. Como suas obras, até então, são construídas em  séries, senti a necessidade de primeiro fazer uma análise crítica das afetações de  Ygor para depois dividir em nichos poéticas que se atravessam e se repetem.

3.4.1 - Com o tempo as coisas se pronunciam

Para adentrar na poética de Ygor Landarin, é necessário antes estruturar uma  breve linha do tempo de seu percurso: o artista nasce em Uruguaiana (RS) em 1995  e ainda na primeira infância se muda para Florianópolis com a família. A proximidade  com o mar marca sua infância e adolescência, assim como as referências culturais  gaúchas de seus pais dentro de casa. Durante os anos escolares, desperta interesse  pelas artes e começa a estudar pintura por conta própria. Após concluir o colégio aos  17 anos, decide mudar-se para o Rio de Janeiro e passa a frequentar aulas de pintura  na EAV Parque Lage. Concomitantemente à prática, percebe que seus trabalhos  começam a ganhar certa consistência artística e que o caminho das artes plásticas se  desenha como um possível trajeto.

Por questões financeiras, precisa retornar para a casa dos pais em 2015, mas,  motivado por uma busca intensa de suas raízes, passa um ano no Rio Grande do Sul.  Essa decisão responde aos anseios e inquietações do artista que estava habitando  como neblina RJ, RS e SC. Dentro de si, Ygor encontrava cortinas embaçadas que,  por não ter uma noção clara de pertencimento, vagava no entre. Em 2016, retorna ao  Rio de Janeiro, CEP que adota até hoje, por entender que aqui encontraria o meio  artístico que ansiava. Desde então frequenta cursos livres de aprofundamento poético  e, a partir de 2017, começa a trabalhar como assistente da artista Brígida Baltar. 

Entender os movimentos espaciais do artista é imprescindível para começar a  cartografia de sua poética. Sensitivo e sensível, Ygor transpõe para produção a  apreensão de territórios e como estes atravessam seu corpo e identidade, sua  memória. Essas reverberações pessoais são a faísca do devir-artista. Sua poética é  subjetiva, dando mais ênfase a sensações e experimentações do que a teorias e  referências artísticas. 

O deslocamento ganha muita importância em sua biografia, pois é o discurso  que o artista adota ao apresentar-se. Essa escolha não responde a uma tentativa  orquestrada de diferenciação. Muito pelo contrário!, Landarin possui uma fala mansa,  um andar leve e um jeito até um pouco nervoso e acanhado, mas sustenta um olhar  atento e penetrante. Esse mergulho acontece de maneira ainda mais intensa quando se volta para dentro: sua inspiração nasce da análise do “eu”, atingindo uma  profundidade e dramaticidade que transpõe para seus trabalhos.

Durante meu primeiro contato com o artista, achei que estivesse lidando com  um menino meigo e inocente, mas bastou duas conversas para entender que, apesar  de seus 22 anos (na época), suas reflexões eram maduras. Mesmo com pouca idade, ele tem consciência da responsabilidade que é expor uma afetação materializada, no  caso, em arte; tanto no que tange o rigor profissional, quanto às possíveis  reverberações em terceiros. 

Extremamente rigoroso, perfeccionista e exigente, o artista consegue atingir um  acabamento refinado em materiais diversos e delicados, assim como na potência de  suas enunciações. E a característica de explorar espaço físicos e psicológicos,  também está presente nas linguagens que utiliza, transitando entre a pintura,  fotografia, escultura, desenho e performance.

A presença do corpo nos trabalhos, embora não apareça sempre de maneira  direta, está intimamente relacionada à questão de território4 e espaços afetivos. Os  pontos pulsantes são o pertencimento, enquanto raiz, e memória, enquanto  identidade. Esses dois núcleos são inerentes à sublimação do corpo de Ygor para as  obras. O choque cultural vivenciado durante a infância – período no qual formamos  nossa personalidade – influenciou sua compreensão de pertencimento. A tensão  criada entre as referências familiares dentro do espaço íntimo (casa) e a cultura local  de seu entorno (cidade) negaram a Ygor a possibilidade de estabelecer uma noção  clara de suas raízes. O devir-estrangeiro em busca de território se tornou um impulso  criativo.


O artista se deu conta da realização dessa problemática quando foi obrigado a  retornar para a Florianópolis (SC) em 2015. A breve estada no RJ tinha amadurecido  sua percepção de mundo e, ao voltar, começou a indagar sobre seus espaços de  pertencimento e identidade, sentindo um impulso em direção à compreensão das  raízes culturais partilhada por sua família gaúcha. Esse foi um período de intensa  produção. 

Desde então, todas as séries que Ygor produz giram em torno desse conjunto  de enunciação: raiz, pertencimento, território, identidade, memória, tempo e espaço.  As fabulações criadas são uma tentativa de apreensão da memória. Porém, as  sucessivas análises trouxeram ao artista à realização de que sua raiz está em seu pé. 

São suas vivências, o entrelaçamento de família, culturas e experiências que fazem  ele ser quem é. Para onde quer que vá, suas raízes irão junto. E pensando sobre isso,  Ygor tem planos de desenvolver uma série com raízes, como uma forma de simbolizar  sua autonomia frente ao território. 

Mas se as raízes estão no pé, elas significam também propensão ao  movimento. O devir-raiz seria um deslocamento, mas que não necessariamente está  conectado a uma necessidade física de mover-se. É antes uma colagem de memórias  do ir e vir das emoções. O importante é estar atento às possibilidades sensitivas que  vibram nos (re)encontros e partidas. 

Durante o “entre” existe um espaço destinado à autoescuta e à  autocontemplação. E nesses períodos, faz-se do corpo guia e morada, de abandonos  e redescobertas de si e do além-corpo. Falar de Ygor Landarin é falar de  pertencimento e transmutação. Conforme seu corpo apreende o território, ele cria  trabalhos que são memórias e reflexos. Aos poucos, suas séries sobem pelas paredes  e tomam conta do espaço. Sua produção é uma espécie museu de si, uma tentativa  de apreensão sensível dos momentos.

3.4.3 - Deslocamento-raiz

O estado constante de metamorfose e a busca incansável pelas raízes  atravessam a obra do artista. Os agenciamentos de sua poética já foram citados  anteriormente e, em uma tentativa de ilustrar a tensão do deslocamento-raiz, podemos  citar a série Seres Sociáveis e a Ao dispor do tempo dos fungos.

Ao dispor do tempo dos fungos discute a aderência do tempo e da cultura na  formação da personalidade de um indivíduo. Complementarmente os Seres Sociáveis,  em especial as obras Colônias, Aporia e FaloDrama, discorrem sobre a tentativa  exaustiva de reconhecer a si mesmo, as raízes e identidade. O significado da palavra  “aporia” no dicionário é “situação insolúvel, sem saída”, ou ”dificuldade ou dúvida  racional decorrente da impossibilidade objetiva de obter respostas ou conclusão para  uma determinada indagação filosófica”. A resposta que o artista apresenta para a  indagação “quem sou eu?” é multifacetada, é o acúmulo de seres semelhantes e  desiguais ao mesmo tempo. É o reconhecimento de que a unidade só existe quando  olhada de fora e com distanciamento, pois uma observação mais atenta revela que o  “todo” é formado a partir de singularizações. 

Os objetos são feitos a partir da queima de biscuit, na qual Ygor utiliza, na  maioria das vezes, o próprio corpo para dar forma a estruturas sociáveis. Ou seja, a  partir de uma mesma identidade ele se divide em um conjunto de seres que se  completam e se espalham, que só existem a partir da ideia do acúmulo de vivências  e memórias. A criação da série aparece como uma forma de produzir a si mesmo e  de reconhecer seus espaços de identificação, potencializados pelos deslocamentos  psíquicos e espaciais que o artista fez em busca de suas raízes.  [...]